plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

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Eu, planta
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Nephrolepis exaltata, ficus elastica, cordyline terminalis, tradescantia zebrina, ficus lyrata, pilea peperomioides, monstera deliciosa. Personagens de um filme de ficção científica? Insetos? Pseudônimos do arcadismo? Nada disso. E se você não sabe do que se trata, não está sob o efeito da última moda pandêmica, destacada por inúmeras reportagens e artigos: a moda de casas mais verdes. Eu estou, mas meu caso é sério e não é de hoje. Tampouco teve início com os dias cinzas de isolamento. Minha onda verde remonta às minhas raízes.

Antes, um pequeno enxerto. Os nomes científicos acima são das plantas da moda: samambaia, falsa seringueira, dracena, lambari, figueira-lira, planta-chinesa-do-dinheiro e costela-de-adão.

VOLTEMOS ÀS RAÍZES 

Essa história começou com meu avô João, um barbeiro de primeira, que preferia terno cinza e sapatos bem engraxados. Usava um pequeno pente no bolso e tinha cada um dos seus poucos fios de cabelo alinhados milimetricamente. João conversava com as plantas. Era atencioso com elas, que retribuíam faceiras: com viço, as menores; com uma generosa sombra, as maiores. Ele cultivava muitas dessas que hoje estampam perfis no Instagram ou no Pinterest. Planta também entra e sai da moda e, mais do que isso, essa moda também é cíclica. Lembro do período em que ter o teto cheio de cachepôs de samambaia era algo, digamos, kitsch.

TERRA FÉRTIL

Meu avô e minha mãe caminhavam pelo pátio e trocavam mudas como se fossem figurinhas. Então, o leitor e a leitora já pressupõem que sim: o amor verde do meu avô havia brotado também no coração da minha mãe. Ela mesma se gabava: "tudo que eu e João plantamos nasce". E isso não era mentira. Minha mãe também conversava com as plantas. Na casa em que vivi a minha infância, se aplicava o conceito contemporâneo de Urban Jungle desde a década de 1980. Lá decorar com plantas foi sempre tendência.

Do meu avô João e da minha mãe, Sonia, eu herdei mais o gosto e menos o jeito. Confesso que, a cada dia, minha casa tem um verdinho a mais. Uma muda nova. Uma pequena horta. E do teto? Porque não pende mais uma plantinha? Ora, ora, eu também converso com as plantas.

Na verdade, quase sempre peço desculpas: atrasei a rega, preciso podar ou transplantar, quem sabe oferecer mais ou menos luz? Elas, pacientes, respondem com resistência à minha falta de tempo. Eu também não desisto, porque embora hoje eu ainda não esteja no meu momento mais frondoso e, aparentemente, eu não tenha a famosa mão boa, a minha raíz é boa e minha relação com as plantas há de vingar.


Obrigada!
Eni Celidonio 
Professora universitária

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Há uma época da vida em que você um dia acorda e resolve: hoje vou gastar uma grana. Eu trabalho, o dinheiro é meu, eu faço o que quiser com ele. E você vai pra rua e fica olhando sapatos, bolsas, roupas e por aí vai. Mas o tempo passa e, de repente, quando você pensa em gastar dinheiro, só uma opção aparece: Farmácia. Aliás, hoje, duas opções apareceram do nada: farmácia e ótica.

Quando eu comecei a ver letras emboladas no papel, pensei que estava com conjuntivite. Primeiro pra perto, depois pra perto e pra longe. Na impossibilidade de conseguir mais 80 centímetros de braço, vamos aos óculos. Hoje, enxergo sem óculos duas coisas: o símbolo do McDonald's e sinal de trânsito.

Vou contar um segredo: você nota que as coisas mudaram quando se da conta da mudança de foco das suas conversas. É mais ou menos assim:

- E aí! Tudo certo com você?

- Indo... Melhorei um pouco da dor nas costas, mas está difícil diminuir o colesterol...

- Ah! Eu, graças a Deus, não tenho problemas de colesterol, mas a diabetes é uma desgraça!

- Você tem diabetes? Eu nem sabia... Só sabia da hipertensão. O que você toma? Insulina?

- Por enquanto, não. Mas estou caminhando pra lá.

- Olha, tem um chá que a minha tia toma...

Nesse ponto, corre pra casa e faz uma novena. Só a fé na causa.

INTERNA, NÃO INTERNA

Esse ano, eu paguei o mico mais "micante" do mundo: tive, pela primeira vez na vida, uma crise de hipertensão tão forte que achei que ia morrer. Chamamos um médico amigo e quando me dei conta, tinha uma ambulância da Unimed na porta do prédio. Interfone toca, porteiro, zelador, vizinho perguntando o que houve, se precisávamos de ajuda, um verdadeiro rebu! Não lembro de muita coisa, porque eu estava totalmente tonta, aliás, muito mais tonta do que já sou. Soro, injeção e tudo hiper, lá em cima, até porque com a idade alguma coisa tem que subir na gente, né não? Interna, não interna, espera, não espera, tem risco, não tem risco e a cena era dantesca: eu deitada, com soro, um médico e dois socorristas da Unimed em volta. Eu não sabia se ria ou se chorava, porque tudo girava. Fiquei assim até que se resolveu chamar meu cardiologista, que passou aqui em casa assim que saiu do consultório.

Se sou um paciente correto, que lava a sério o que os médicos recomendam? Nem tanto... ser meu médico é ter paciência, é ter uma relação mais de amizade do que de espírito profissional. Eu sei que sou difícil, cabeça dura, teimosa e fico sem ir ao consultório por muito tempo. Por essas e por outras que agradeço aos médicos que me tratam e aos que vão me tratar, e nas pessoas do Dr. Álvaro Rossi, Dr. Paulo Afonso Beltrame, Dr. Juliano Rigon e Dr. Paulo Bau eu homenageio todos os médicos que estão na linha de frente, não só do Covid-19 como também da nossa saúde do dia a dia. Obrigada, obrigada, obrigada!




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